14 de abr. de 2013

Estilosa

Pixels
2010

Estilosa! _ Esse é o melhor elogio que já recebi, da safra de jovens artistas. Eu cresci amadurecendo em todas as minhas fases e consciente de não abrir mão de nenhuma delas, sentindo-me uma artista universal e livre para me expressar em qualquer estilo. Não me arrependo disso, pois o que mais se pode ganhar em ser artista é a felicidade de criar e a criação não seria criação caso não tivesse asas e no meu caso as asas são muito longas. Contudo na época a "Fase Vemelha", foi a que me abriu mais portais. Embora todos gostassem dos meus demais estilos, somente a Fase Vermelha me proporcionou os convites mais especiais. Eu fazia as pinturas em papel ou em tela em tamanho grande e ao mesmo tempo fazia  pequenos na forma de cartões.  As pessoas que compravam os cartões ficavam interessadas em obter um trabalho grande e assim fiz ótimos negócios. Não demorou, fui convidada a realizar a minha primeira exposição individual na galeria do Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, da FUNIARTE em Niterói, no RJ em 1991. Eu fui contatada pelo pessoal do Centro Cultural em novembro de 89, numa exposição coletiva, montada por mim e uma amiga, a artista plástica Helenice Bueno que também fazia "abstratos". Nós montamos a exposição no "Espaço Bar", um barzinho na zona sul de Niterói, que tinha música ao vivo quase toda noite. O dono do bar nos ofereceu um coquetel de abertura e pode-se afirmar que a exposição "Expressão e Construtivismo" também agitou a noite dos finais dos anos 80.                                                                                                                                               Armadilha:  Hoje estou com 57 anos e embora me sinta uma menina, rsrs, após 40 anos de trajetória no universo das Artes, já posso dizer que "eu sou do tempo", que artista plástico ia com o quadro debaixo do braço para rua e saia por aí "dando o seu jeito" afim de divulgar a obra. Não havia internet e cada um se guiava pelo instinto ou inspiração, entrando em concursos para participar de exposições de renome, fazendo coletivas e muitos outros esquemas, que aindam existem, até conseguir ser reconhecido e sua obra ser divulgada em revistas e vendida em galerias famosas.  Um dos problemas do artista plástico brasileiro, é que ele tem que tomar muito cuidado com esse esperado "reconhecimento". Após ser selecionado pelos críticos e avaliadores profissionais do nosso meio, o artista tem passagem livre a todas as galerias de arte do país e obviamente passa a vender muito bem seus quadros, gravuras esculturas e etc, o sonho e meta da maioria. Porém o autor fica preso dentro de  uma redoma de "estilo". Explicando melhor, se o artista fez sucesso como "surrealista" por exemplo, ele só poderá expor em qualquer galeria que seja, suas obras surreais. Será sempre mencionado como artista surreal e caso o artista continue criando em outros estilos, tais obras não poderão ser vendidas nas galerias. As novas obras devem ficar isoladas em sua residência a espera de "colecionadores" que gostam de investir em preciosidades e raridades que costumam valer muito, após a morte do artista. Caso você seja como eu,  artista visual de várias facetas, deve deixar isso bem claro desde o início e não ceder as pressões do mercado. Isto talvez possa não ajudar muito a se "consagrar", mas garante a liberdade e tudo é uma questão de sorte! Eu tive a sorte de ser convidada a expor obras abstratas da "Faze Vermelha" na Bienal de Berlim nos meados de 90. Fui contatada pela agenciadora de artes Simone Caldas. A princípio aceitei o convite e fiquei radiante e lisonjeada em ser uma das escolhidas pelos críticos alemãs, do pacote de artistas brasileiros que seriam introduzidos na bienal por Simone. Simone havia comprado alguns dos meus trabalhos em aquarela e após sua curta viagem a Alemanha, na qual participei da festa que os amigos fizeram antes de sua partida, ao retornar ela me trouxe as novidades sobre o evento. Ficaríamos em Berlim uma semana com todas as despesas pagas e as aquarelas  na bienal até o final da exposição. Contudo eu procurei me informar com a agenciadora acerca do "seguro" sobre o valor das obras, durante o transporte e a resposta não foi promissora. A bienal não cobria o valor das obras, caso elas sofressem algum dano ou acidente. Apesar de poder me arriscar e expor mesmo assim, preferi não aceitar o convite e não participei da bienal. Assim como o dia vira noite e a noite vira dia, fatalmente e imediatamente eu teria me consagrado no Brasil caso aparecesse nesta importante exposição internacional. Não me faltariam galerias abertas, só de lerem meu curriculum, que justiça seja feita é bem pequeno em termos de exposição.  Contudo posso dizer, que sou uma das poucas pessoas do meio, que recusaram uma proposta dessa. Além disso, escapei da armadilha de ser rotulada como pintora "abstrata construtivista", o que me deixa satisfeita, já que o computador e a Internet estendeu nossas possibilidades criativas e me abriu inúmeros horizontes. Clique aqui para ver no blog algumas imagens da "Fase Vermelha".